Brent Smith participa do álbum em tributo ao Muscle Shoals

Recentemente, Brent Smith realizou o cover de "Mustang Sally" (Wilson Pickett) para o álbum 'Muscle Shoals: Small Town, Big Sound', tributo ao lendário estúdio, Muscle Shoals, que também contou com a participação de nomes como Steven Tyler, Alan Jackson, Grace Potter e outros.

Em entrevista ao site No Depression, o vocalista comentou como foi essa experiência, relembrou sua infância, suas influências musicais e também falou do atual single do Shinedown, 'Get Up'.

Leia abaixo:
Eu tenho que admitir que quando eu li que você escolheu “Mustang Sally”, eu fiquei surpreso porque é uma música tão frequentemente regravada, mas você não apenas entregou uma versão espetacular, como também conseguiu torná-la nova. Como você regravou uma música tão familiar e amada, e encontrou o equilíbrio entre homenagem e novidade?
Uma coisa que me ajudou, foi que eu não sabia muito sobre Wilson Pickett. Claro, eu conhecia a música, mas não mergulhei na história da música e em todas as diferentes versões dela. Meu pai mudou meu ponto de vista sobre música quando eu tinha 14 anos, porque ele me deu uma fita - quando os cassetes ainda existiam - de um cara chamado Otis Redding. Otis abriu a porta para o meu conhecimento do soul e R&B. Ele me fez conhecer Sam Cooke, Percy Sledge e Marvin Gaye, e então eles me levaram para Ella Fitzgerald, Nina Simone e Billie Holiday. Então, mesmo que eu ame soul e cantores do gênero, eu não tenho tanto conhecimento da música de Wilson Pickett. Então, quando surgiu a oportunidade de ir ao Muscle Shoals com Rodney Hall (o produtor da gravação), eles descobriram que eu tinha uma folga para ir à Alabama e gravar a música. Quando cheguei lá, havia apenas quatro músicas que Rodney queria que eu considerasse. Como eu não sabia tanto sobre “Mustang Sally” tanto como eu conhecia as outras músicas - uma era “Main Street” de Bob Seger - eu escolhi essa, porque eu percebi que ela apresentava uma oportunidade para gravar algo novo. Além disso, eu sabia que alguns dos músicos desse álbum estavam na gravação do Wilson Pickett. Então, isso tornou realmente emocionante.

Haviam cerca de quinze pessoas naquela pequena sala quando gravamos. Os únicos overdubs eram os vocais de apoio das três senhoras maravilhosas. A gravação teve uma certa energia, mas eu também lhe direi isso - acho que parte da minha privação de sono também ajudou. Eu estive na Europa por três semanas promovendo o novo álbum do Shinedown. Voei de Madri para Nashville e fui dormir por cerca de cinco horas. Na manhã seguinte fomos direto para Muscle Shoals. Nós entramos no Fame Studios e foi tipo, “Tudo bem, vamos lá".

Então, nós realmente fizemos duas versões. As primeiras tomadas foram muito próximas da original. Nós estávamos trabalhando no mesmo ritmo. Então eu quis parar. Eu fui muito respeitoso, mas depois eu disse: "Vamos fazer algo um pouco diferente. Vamos tentar torná-lo um pouco mais atual. Vamos dar uma pitada de alguma modernidade e um pouco mais sexy". Então, diminuímos o ritmo. E foi isso. Nós tivemos duas versões diferentes.

Agora, isso nunca teria acontecido se Rodney não tivesse me falado: "Faça do seu jeito". Eu senti que isso foi uma permissão para retrabalhar essa música clássica, outra coisa que ele fez foi tirar o microfone da cabine de vocal e colocá-lo no centro da sala. Então, ele disse: "Se você precisar de um pouco de inspiração, olhe para cima e para a esquerda".

O que eu vi, foi um retrato de Wilson Pickett durante a sessão de gravação de “Mustang Sally”.



Eu usei a palavra "nova" exatamente porque essas qualidades individualistas e modernas são audíveis em sua versão. Falando mais amplamente, você mencionou ter conhecido a música soul ainda quando menino. Qual você diria que é a conexão entre o Shinedown e o R&B?
Quando eu era adolescente, eu estava ouvindo muito Rock'n'Roll e fiquei muito interessado com punk e metal. Um dia, meu pai entrou no meu quarto quando Sex Pistols estava tocando, e me disse: “Brent, você pode abaixar?”, eu disse: “O quê?”, ele gritou: “Você pode abaixar?” e me lembro que ele disse: “Não tenho ideia do porquê essas pessoas estão tão zangadas, mas posso apreciar sua paixão. Mas me deixe mostrar algo diferente, e por favor, apenas tente ouvir”. Ele me entregou aquela fita de Otis Redding que eu mencionei. Meu amor por isso foi instantâneo. Eu nunca tinha escutado esse tipo de convicção em um vocal antes. E isso me levou a tantos outros cantores, especialmente aqueles cantores de soul profundo com padrões vocais bombásticos.

Então, se você ouvir a minha banda, você pode ouvir mais a parte da música soul em mim nos dois primeiros álbuns do Shinedown. Eu ainda estava procurando pelo meu som e finalmente comecei a me adaptar à minha técnica e confiança no terceiro álbum. Eu pensei que tinha alcançado a convicção de cantar de um lugar real.
Quero enfatizar essa palavra - "convicção". Como você segura uma nota em particular? Como você planeja através de diferentes padrões vocais?

Eu aprendi a cantar com convicção da alma. Aqui está o melhor exemplo de convicção em um cantor: Até hoje, posso colocar Billie Holiday e sentir que ela está cantando para mim. Mesmo que o estilo seja diferente, tento invocar essa mesma paixão com o Shinedown.

É um privilégio e eu me sinto muito sortudo, porque eu sabia que queria ser cantor quando tinha doze anos e nunca mudei. Eu apenas trabalhei mais e mais nisso.

Falando de convicção, que apresenta uma boa transição para falar sobre o último single de Shinedown, "Get Up". Trata-se de doença mental e superação da depressão, um tópico oportuno e atemporal, e está tendo um impacto significativo na vida de muitas pessoas. Como você acabou escrevendo e gravando a música?
O processo para o álbum começou no ano passado e nós nunca falamos sobre ter um produtor, porque eu sabia que Eric Bass, nosso baixista, produziria o álbum. Eric é muito mais que nosso baixista. Ele tem uma voz fenomenal - quero dizer, tom perfeito. Se ele ouve alguma coisa fora do normal, isso o deixa louco. Além de tudo isso, ele sempre foi engenheiro e produtor, mas esta é a primeira vez que ele fez um álbum inteiro. Ele não apenas produziu, mas também projetou e mixou.

Eu passei 129 dias com ele no ano passado em Charleston, Carolina do Sul, e porque “Get Up” é tão significativa, e como foi escrita, foi porque ele tinha uma parte principal no piano que estávamos guardando. Enquanto estávamos escrevendo a parte de piano, houve um zumbido e isso estava o deixando louco. Então, nós desmontamos todo o piano e colocamos tudo de volta para nos livrarmos desse zumbido. Em nosso Instagram, se você voltar longe o suficiente, poderá ver um vídeo de Eric desmontando o piano e explicando: “Estamos trabalhando em uma nova música e precisamos desmontar o piano para fazer isso, então você poderá ouvi-la”.

Aquela música em que estávamos trabalhando se tornou "Get Up".

A parte principal que ficou foi a letra. Normalmente, com letras, se eu não conseguir em 24 horas, eu continuo. Então, se passaram onze dias. Eric estava tão frustrado, porque eu ainda não tinha a letra. Ele me disse para seguir em frente e esquecer, e eu disse: “Dê mais um dia”. No dia seguinte, liguei para ele e finalmente tinha a letra.

Em vez de ler as letras, cortei a música. Levou seis horas - a parte vocal inteira, as harmonias, tudo. No dia seguinte ouvimos a música e eu disse: “Eu absolutamente amo isso”. Ele disse que também, e então eu perguntei: “Você sabe do que se trata?”.

Ele disse: “Sim, eu sei do que se trata. É sobre mim".

Eu estava com medo de que, ao escrever essas letras, eu cruzasse uma linha com ele em nossa amizade, nosso amor e apreciação um pelo outro. Aqui está a coisa interessante e corajosa sobre Eric: Ele não estava bravo comigo, mas ele disse: "Agora que cruzamos a linha, vamos remove-lá".

Então, “Get Up” foi a primeira música para o conceito que definiria todo o álbum. É o que faz 'Attention Attention' um álbum de história - a história de alguém lidando com depressão e encontrando forças para superá-la. "Get Up" tem quatro minutos em uma história de 51 minutos.

E é o ponto de virada da história. Certo?
"Get Up" é o momento no álbum em que o indivíduo começa a recuperar sua confiança e recompõe sua vida.

Como você descreveria a resposta para “Get Up”?
Na verdade, foi a experiência mais maravilhosa da história da banda, por causa do quão sincero e rápido que está acontecendo. Não é só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo. Dois meses após o lançamento do álbum, "Get Up" já tinha mais de três milhões de visualizações no YouTube e, nos comentários, havia uma incrível comunidade de pessoas falando sobre o quão relevante e importante a música era para elas. Muitas pessoas nos disseram que a música entrou em suas vidas no momento perfeito e isso lhes deu uma esperança real. É sobre algo real. Não é sobre dinheiro, fama ou imagem. É algo que veio de mim e do Eric, porque é baseado em nossa experiência e, por causa disso, é uma música que permite que pessoas que têm ansiedade e depressão saibam que não estão sozinhas.

É também uma música que, eu espero, faça iniciar uma conversa sobre como há uma diferença entre ter um dia ruim e ter um desequilíbrio químico. Muitas pessoas acreditam que alguém que sofre de depressão pode simplesmente "superar isso".

O que é realmente corajoso e inspirador sobre Eric, e eu vi de perto, é que ele tem uma maneira de falar sobre depressão que permite que outras pessoas se abram sobre o que estão passando. Isso é importante, porque para todos os progressos que fizemos, ainda é verdade que a maioria das pessoas com doenças mentais não vão falar sobre isso, porque temem que elas sejam ridicularizadas ou vão sentir constrangidas e com vergonha.

Uma das tarefas mais importantes que a arte pode realizar é o encorajamento da conversação. Pode provocar perguntas e exploração de tópicos que muitas pessoas preferem ignorar.
Sim, e não queremos começar uma discussão com "Get Up". Queremos que as pessoas aproveitem suas vidas. Nem sempre vai ser fácil, mas mesmo quando os tempos são difíceis, não deixe para trás seu senso de compaixão. Então, com 'Attention Attention', estamos tentando dizer às pessoas: “Vocês vão fracassar, mas vocês não serão definidos pelos seus fracassos. Vocês serão definidos por terem se recusado a desistir".